terça-feira, maio 06, 2014

Stuart

Cheguei animada na cozinha, segurando o livro nas mãos.
- Mãe. Olha o que estou lendo!
Ele se virou e analisou a capa. Voltou-se novamente para a pia, terminando de ensaboar um prato e soltou um riso baixo.
- Eu tinha visto na sua mesa.
O romance policial era dela, presente da sogra. Eu nunca soube de maiores detalhes sobre a crítica de minha mãe para com o livro. Só me lembro de uma vez que ela reclamou sobre os personagens terem nomes estrangeiros, por isso ela nunca terminara de ler... pelo menos foi assim que eu entendi (ou quis entender).
- Nossa - Continuei - Estou louca pra saber quem matou o Sr. Abernethie.
Sem se virar, ela emendou:  - Foi o Stuart.
Daí:
- Não acredito! Porque você me contou isso?
Ela se virou novamente:
- Tem algum Stuart na história?
- Não.
- Então... Estava brincando. Ha ha ha. Caiu.

O que eu aprendi naquela noite?
Que até hoje desconfio de um personagem que não existe.
E ainda desconfio se ele não existe mesmo.
E desconfio mais ainda de qualquer Stuart.
E também desconfio da minha mãe.

segunda-feira, abril 28, 2014

Aroma de café nos ares do aeroporto

     “Estou aqui só dando uma voltinha”, justificou Márcia Cristina Abraão, 64 anos, enquanto passeava pelo aeroporto de Cumbica, em Guarulhos.
     Arrumando seu cachecol roxo ela disse que esse costume de passear pelo aeroporto vêm de muitos anos. Ela lembra que na década de 70, a moda era ir em bailes organizados pelos garotos da escola. “Nós ficávamos nos bailinhos até às 22 horas, depois da festa alguns grupinhos iam até o aeroporto tomar café. Mas isso acontecia sempre lá em Congonhas, na Zona Sul de São Paulo. Ainda sinto aquele aroma forte do café”, diz, saudosa.
     Márcia conta que nessa época Congonhas tinha um salão que dava vista para a pista. E o local também era usado para festas e casamentos. Brincando, Márcia deixa no ar uma certa mágoa: “Meu sonho era ir lá, numa festa dessas, só que nunca fui convidada. E também nunca tive coragem para entrar de penetra.”
Mesmo sem entrar no salão, Márcia diz que sempre ia a uma cafeteria que possuía uma vista privilegiada.        “Havia um vidro enorme por onde se via a Avenida Washington Luís e, do outro lado, a pista do aeroporto”. Naquele tempo era moda passear por lá. “Era considerado chique. Eu e minha turma ficávamos lá, madrugando”.
     Ela lembra que era interessante ficar vendo também os voos internacionais, que naquela época, eram operados em Congonhas. Só que nem tudo era graça. “Uma vez fomos lá, eu, um cunhado e uma sobrinha.      Como meu cunhado não queria gastar nada, não entramos no restaurante e ficamos apenas em uma rampa de onde vimos os aviões e o pessoal que embarcava e desembarcava. Foi entediante. Não vimos nada que valesse a pena.”
     Márcia já viu que passear no aeroporto deixou de ser emocionante. “Muita coisa mudou, a começar pelo aeroporto de Congonhas que fechou a bela vista que a gente tinha. Hoje em dia é tudo muito tumultuado. Aquela época era tranquila e sem violência”. Ao final Márcia olha o restaurante e diz:  “Acho que aqui também está muito caro para se comer. Fica caro até mesmo para se tomar um cafezinho.”
Por Isabela Guimarães

Você tem medo do quê?

        Não, nem diga que você sofre de aviatofobia... Aviatofobia é o nome que se dá ao tal de medo de voar de avião. E olhe que isso atinge entre 20 e 40% da população mundial. Dentre todas essas pessoas, quem sofre com isso é Gilmar Teixeira, 54 anos, que trabalha na oficina de Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, a CPTM, há 28 anos.
     Gilmar conta que durante esses mesmos 28 anos, faz seu caminho para o trabalho em uma hora e quarenta minutos. Ele vai do Tucuruvi para a Luz. Da Luz para Pinheiros. De Pinheiros para Presidente Altino. Tudo isso andando de trem e metrô. “O que acho ruim nos trens é que eles são antigos. Mas apesar disso, facilitam a vida das pessoas, pois são rápidos, não pegam trânsito... e nem fazem curva.”
      O transporte é bem seguro, garante Gilmar. “E isso é confirmado pela pouca quantidade de acidentes que acontecem.” Agora, quando a conversa é avião, ele confessa que não viajaria de forma alguma: “Apesar de também ser um transporte muito seguro, não me sinto confortável, tenho medo, sempre imagino que coisas ruins possam acontecer, como quedas e falhas. Acho que é fobia, né?”
     De qualquer forma, se houvesse outro transporte mais eficaz e rápido, fora o avião, ele iria para a Coreia do Sul. “Porque é um país lindo, limpo... ninguém come na rua. Tudo é certinho e até os rios são limpos. Ou seja, tudo diferente do Brasil.”
     Gilmar finaliza dizendo que já viu em algum lugar, algum noticiário que a chance de alguém bater o carro e morrer a caminho do aeroporto é quinhentas vezes maior do que a de um avião cair. Ele brinca e finaliza: “É por isso que nem pro aeroporto eu vou.”
Por Isabela Guimarães

terça-feira, abril 22, 2014

O que vai ser da Copa?

        A Copa está aí e tirando as reclamações sociais em torno do acontecimento. Os amantes do futebol não param de especular. O que pensam os torcedores sobre a Copa? O que pensam os corinthianos? E os são-paulinos?
        Alexandre Gallinucci, 19 anos, diz que é torcedor do São Paulo desde os três anos de idade. “Antes disso, eu torcia pro Corinthians, mas só por influência do meu tio e do meu avô. Hoje, torço pro São Paulo por causa dos símbolos, das cores e do hino."  Ele diz que sente orgulho da grandeza que o São Paulo Futebol Clube representa por ser multicampeão.
        Alexandre acha que a formação atual da Seleção Brasileira é boa e que está jogando bem. “Mas não é a seleção favorita. O Brasil era o segundo no ranking da FIFA. Despencou para décimo quarto e agora foi pra nono”, explica. Ele tem esperança de que o Brasil passe direto na primeira fase, ainda que o jogo contra o México pareça ser o mais difícil. "Não acho que o Brasil vai ser campeão, mas vai chegar pelo menos entre os três primeiros”, especula.
        Apesar de torcer para a Seleção, Alexandre vê o lado negativo de uma Copa do Mundo no Brasil. “É um país que não tem estrutura pra receber um evento desse porte. Um exemplo são os comerciantes que exploram para faturar. O brasileiro fica com fama de ‘engana gringo’. Sempre quer levar vantagem.”
Se ganhasse um ingresso, iria para o estádio, mas com um bom planejamento antes. Por isso, escolheu o próprio sofá da sala para assistir aos jogos.
        Já Leandro Massaroto, 20 anos, é corintiano desde que se conhece por gente. “O amor que sinto pela minha família é igual ao amor que sinto pelo meu time”, diz. Ele conta que esse “amor” pelo futebol, não se estende para a Seleção. Apesar disso, vai torcer para o Brasil ganhar a Copa. “Mas se não ganhar também não vou ficar incomodado”, explica.
        Ele diz que, em um quadro geral, a Copa é boa para o desenvolvimento do país, mas bem longe do ideal. “Por exemplo, transporte, educação e saúde continuam uma porcaria”. Brincando, diz que ela atrapalha o calendário dos campeonatos de clubes. “Isso me irritou um pouco, mas tudo bem.” Leandro é estudante de engenharia e ressalta que a Copa, pelo menos, está aquecendo o mercado da construção civil e fazendo a felicidade das construtoras.
         Ao final, disse que vai assistir aos jogos com seus amigos, festejando nos bares da cidade, além de um farto churrasco com a família. “Será um momento único em nosso país por pelo menos uns 70 anos. Acredito que não estarei vivo na próxima copa no Brasil, então vou aproveitar ao máximo”, conclui.

Por Isabela Guimarães